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TDAH tem cura

É para sempre? Esta é uma das perguntas mais frequentes que meus pacientes trazem ao consultório. É uma pergunta que representa vontade de resolver os problemas e, ao mesmo tempo, angústia diante do desconhecimento, da idéia de um problema que se vai carregar para o resto da vida.

Muitos médicos afirmam, de maneira trivial, que usar medicação psicotrópica, mais conhecidas como remédios “tarja preta”, é completamente normal – mesmo que seja “para sempre”. Basta checar declarações em sites da internet, feitas inclusive por profissionais conhecidos, até mesmo pesquisadores respeitados. São extremamente comuns as comparações, do meu ponto de vista totalmente desproporcionais, entre tomar remédios para diabetes “para o resto da vida” e usar tarja preta para TDAH. Como se fosse algo totalmente “normal”.

TDAH e você – Unidos para sempre?

É para sempre? Esta é uma das perguntas mais frequentes que meus pacientes trazem ao consultório. É uma pergunta que representa vontade de resolver os problemas e, ao mesmo tempo, angústia diante do desconhecimento, da idéia de um problema que se vai carregar para o resto da vida.

Muitos médicos afirmam, de maneira trivial, que usar medicação psicotrópica, mais conhecidas como remédios “tarja preta”, é completamente normal – mesmo que seja “para sempre”. Basta checar declarações em sites da internet, feitas inclusive por profissionais conhecidos, até mesmo pesquisadores respeitados. São extremamente comuns as comparações, do meu ponto de vista totalmente desproporcionais, entre tomar remédios para diabetes “para o resto da vida” e usar tarja preta para TDAH. Como se fosse algo totalmente “normal”.

Eu mesma refuto esta idéia – não vejo o TDAH, nem de longe, como algo parecido com o diabetes; é esta minha concepção que partilharei neste artigo. Irei compartilhar minhas idéias sobre os conceitos de doença, cura e manejo de sintomas em referência ao TDAH. Abordarei também a relação entre tipos de tratamentos, especialmente medicação e terapias não medicamentosas e a necessidades de manter os tratamentos “para sempre”.

Pelo que vejo com meus pacientes, ninguém aceita tranquilamente a idéias de “não ter cura” ou pensa “tudo bem”, diante da idéia de fazer um tratamento com remédios psiquiátricos sem expectativa de resolução de longo prazo. A recusa é ainda maior por parte dos pais, que com toda a razão encaram o presente sem deixar de lado suas perspectivas futuras.

TDAH não é doença, portanto não tem cura – mas pode ser controlado
O TDAH não é considerado uma doença, assim não se pode falar em cura. Uma doença é um estado do corpo, causado por uma situação ou agente específico, que pode ser eliminado para que se retorne ao estado inicial. O TDAH é uma síndrome – um conjunto de sintomas, com causas múltiplas, incluindo fatores neurobiológicos, pessoais e ambientais.

Independente dos rótulos, de ser ou não doença, o que interessa aos portadores ou seus pais é: como irei lidar com os sintomas, como irei tratar. E também, por quanto tempo o tratamento será necessário e, especialmente, se precisarei usar drogas psicotrópicas por longos períodos. Causa de fato grande desconforto a idéia de um dano, um déficit, algo irreversível.

TDAH não tem cura, é algo que faz parte da pessoa e que acompanhará por toda a vida. Contudo, não quer dizer que ela terá prejuízos permanentes. Mesmo não tendo cura, o TDAH é uma síndrome que pode ser muito bem manejada e que, no cenário mais positivo, com a escolha dos tratamentos que tragam efeitos de longo prazo, é possível conviver bem com esforços mínimos, podendo inclusive dispensar o uso de medicamentos.

Para entender como o tipo de tratamento escolhido tem relação direta com a necessidade de fazer os tratamentos “para sempre”, é preciso compreender bem a relação entre TDAH e cérebro, os conceito de neuroplasticidade e dos fatores de risco e de proteção.

Cérebro, neuroplasticidade, fatores de risco e de proteção

O TDAH tem relação direta com o funcionamento de uma parte especial do corpo – o cérebro. Há diversos estudos que encontraram correlações entre alterações no funcionamento de algumas áreas do cérebro, como a lentificação dos lobos pré-frontais e presença de sintomas de TDAH. Também, há evidências de ser um transtorno que corre em famílias, fato indicativo de hereditariedade. Contudo, não é algo que tenha uma causa única, sequer exclusivamente limitada ao funcionamento cerebral ou à hereditariedade.

Nosso cérebro vai se construindo e reconstruindo constantemente, durante toda a vida. A isto se chama neuroplasticidade. Em função das experiências, das aprendizagens, do “uso” que se faz dele, o cérebro se transforma. E isto tem grande impacto numa concepção integrativa do TDAH.

O componente biológico, hereditário, do TDAH entra nesta equação como um fator de risco, que pode levar ao aparecimento ou piora dos sintomas. Ao mesmo tempo, há fatores de proteção, tanto pessoais quanto situacionais e ambientais. Uma criança que tenha forte hereditariedade para TDAH (fator de risco), que ao mesmo tempo seja dotada de inteligência superior (um fator pessoal) e que viva numa família super-estruturada, provavelmente não terá grandes prejuízos, na medida em que os fatores de proteção poderão compensar os sintomas.

Alguns tipos de tratamento são “para sempre” – por que optar por eles?

O tipo de tratamento que se escolhe para o manejo do TDAH é determinante quanto ao tempo que será necessário mantê-lo. Tratamentos voltados exclusivamente para o controle químico dos sintomas – conseguido pelo uso de medicação, de fato não ter perspectivas de ganhos de longo prazo. Ou seja, neste aspecto os médicos estão certos. Quem faz tratamento apenas com uso de remédios, terá de mantê-los indefinidamente.

Quando se usa medicação, seu efeito é provisório, permanecendo apenas pelo tempo que a substância estiver no organismo. No caso da Ritalina 10mg, dura em torno de 4 horas. Prescrições de longa duração podem durar entre 6 e 12 horas. Quando o efeito do remédio acaba, todos os sintomas retornam. Neste cenário, não há expectativas que se possa deixar o medicamento. Esta é a principal razão pela qual muitas pessoas são contra a alternativa medicamentosa – há o desejo de libertar-se, a si ou a seus filhos, de um tratamento com droga psicotrópica sem prazo para terminar.

O que é preciso considerar em relação ao uso de medicamentos é que estes podem, de fato, compor um conjunto de ações de tratamento, sempre tendo em vista o objetivo maior de intervenção mínima no longo prazo. Ou seja, é possível usufruir dos benefícios de curto prazo que eles podem trazer (sua taxa de respostas positivas fica em torno de 60-70% dos casos), ao mesmo tempo que se trabalha para conseguir os efeitos duradouros, de longo prazo. Neste ponto, entra em cena a aprendizagem – recondicionamento cerebral e comportamental – ao lado das mudanças estruturais e do ambiente de convivência. Como dizem os americanos, que já acumularam grande conhecimento nesta área: Pills don´t teach skills – Pílulas não ensinam habilidades.

Até o momento, não podemos interferir em larga escala sobre os fatores genéticos ou congênitos – talvez algum dia a engenharia genética nos permita esta conquista. E, nesta dimensão orgânica, não podemos realmente falar em “cura”. Contudo, o trabalho direcionado a maximizar os fatores de proteção e seu potencial de compensação dos déficits estão, sim, ao nosso alcance. E mais, ganhos em termos de aprendizagem não se perdem.

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